Dormir bem não é apenas uma questão de descanso — é essencial para o bom funcionamento do corpo e da mente. Durante o sono, nosso organismo realiza processos fundamentais, como a regeneração celular, o equilíbrio hormonal, o fortalecimento do sistema imunológico e a consolidação da memória. Quando a qualidade do sono é comprometida, diversos aspectos da saúde física e mental também são afetados.
Entre os distúrbios que mais impactam o sono está a apneia do sono, uma condição caracterizada por interrupções repetidas da respiração durante a noite. Apesar de ser relativamente comum, muitas pessoas convivem com a apneia por anos sem saber, acreditando que roncar alto ou sentir cansaço durante o dia seja algo “normal”.
Neste artigo, você vai entender o que é a apneia do sono, conhecer suas principais causas, sintomas mais frequentes, os riscos de não tratá-la adequadamente e as opções de tratamento disponíveis. Se você ou alguém próximo sofre com o sono não reparador, este conteúdo pode ajudar a identificar um problema que merece atenção médica.
O Que É Apneia do Sono?
A apneia do sono é um distúrbio caracterizado por paradas repetidas da respiração durante o sono. Essas pausas podem durar de alguns segundos até mais de um minuto e ocorrem várias vezes por noite, muitas vezes sem que a pessoa perceba.
Durante esses episódios, o corpo é privado de oxigênio por alguns instantes, o que leva o cérebro a “despertar” brevemente para restabelecer a respiração. Isso fragmenta o sono, mesmo que a pessoa não se lembre dos microdespertares no dia seguinte. O resultado é um sono de má qualidade, que pode causar cansaço extremo, dificuldade de concentração, irritabilidade e problemas de saúde mais graves ao longo do tempo.
Principais tipos de apneia do sono
Apneia Obstrutiva do Sono (AOS)
É o tipo mais comum. Ocorre quando os músculos da garganta relaxam excessivamente durante o sono, fazendo com que as vias aéreas fiquem parcial ou totalmente bloqueadas. Isso impede o ar de passar, mesmo com o esforço respiratório do corpo.
Apneia Central do Sono
Neste caso, o problema não está na obstrução das vias aéreas, mas sim em uma falha do cérebro em enviar os sinais corretos aos músculos responsáveis pela respiração. É menos comum que a AOS e geralmente está associada a condições neurológicas ou cardíacas.
Apneia Mista ou Complexa
É uma combinação dos dois tipos anteriores. A pessoa apresenta inicialmente uma apneia obstrutiva, mas também desenvolve episódios de apneia central ao longo da noite.
A apneia do sono afeta diretamente a qualidade do descanso e a oxigenação do organismo, o que pode desencadear ou agravar diversas doenças, como hipertensão, diabetes tipo 2, arritmias cardíacas e até mesmo depressão.
Causas da Apneia do Sono
A apneia do sono pode ter diversas causas, e geralmente é resultado da combinação de fatores físicos, genéticos e comportamentais. Identificar esses fatores é essencial para orientar o diagnóstico e definir o tratamento mais adequado.
Fatores anatômicos
Algumas características físicas aumentam a chance de obstrução das vias aéreas durante o sono. Entre elas:
Excesso de tecido na garganta ou amígdalas aumentadas
Pálato mole alongado (parte de trás do céu da boca)
Desvio de septo nasal ou obstruções nasais crônicas
Mandíbula ou língua em posição desfavorável, que pode recuar e bloquear a respiração
Essas alterações estruturais dificultam a passagem do ar, principalmente quando os músculos da região relaxam durante o sono.
Sobrepeso e obesidade
O excesso de gordura corporal, especialmente na região do pescoço e parte superior do corpo, pode comprimir as vias respiratórias e aumentar significativamente o risco de apneia obstrutiva do sono. A obesidade é um dos principais fatores de risco modificáveis para a doença.
Idade e gênero
A apneia do sono é mais comum em homens, especialmente acima dos 40 anos. Após a menopausa, o risco também aumenta nas mulheres, provavelmente por mudanças hormonais que afetam o tônus muscular das vias aéreas.
Histórico familiar
Ter parentes de primeiro grau com apneia do sono pode aumentar a chance de desenvolver o distúrbio. Isso pode estar relacionado tanto à herança de características anatômicas quanto a predisposições genéticas.
Uso de álcool, sedativos ou cigarro
O álcool e os sedativos relaxam excessivamente os músculos da garganta, favorecendo o colapso das vias aéreas durante o sono.
O tabagismo causa inflamação crônica das vias respiratórias, o que também pode levar à obstrução parcial ou total durante a noite.
Condições médicas associadas
Algumas doenças aumentam o risco de apneia do sono, como:
Hipotireoidismo (baixa produção de hormônios da tireoide)
Hipertensão arterial
Insuficiência cardíaca
Diabetes tipo 2
Síndrome dos ovários policísticos (SOP)
Essas condições podem interferir no controle respiratório, na função muscular ou na estrutura das vias aéreas.
Na maioria dos casos, a apneia do sono se desenvolve a partir da combinação de vários desses fatores, e por isso é tão importante realizar uma avaliação médica completa para entender a origem do problema em cada paciente.
Principais Sintomas da Apneia do Sono
A apneia do sono costuma se desenvolver de forma silenciosa, e muitas vezes quem sofre do distúrbio não percebe os sinais. Por isso, é comum que os primeiros alertas venham de parceiros(as), familiares ou colegas de quarto. Ficar atento aos sintomas é essencial para buscar ajuda médica e iniciar o tratamento adequado.
Veja abaixo os principais sinais e sintomas da apneia do sono:
Ronco alto e frequente
O ronco é um dos sinais mais comuns da apneia do sono, especialmente quando é alto, constante e piora em determinadas posições, como ao dormir de costas. Embora nem todo ronco indique apneia, quando está associado a pausas na respiração, torna-se um sinal de alerta importante.
Pausas na respiração durante o sono
Essas pausas costumam ser percebidas por quem dorme próximo ao paciente. São momentos em que a pessoa literalmente “para de respirar” por alguns segundos, seguidos por um engasgo, suspiro forte ou barulho ao retomar a respiração. Esses episódios podem ocorrer dezenas ou até centenas de vezes por noite.
Sonolência diurna excessiva
Mesmo dormindo aparentemente por horas suficientes, quem sofre de apneia do sono costuma acordar cansado e sentir muita sonolência ao longo do dia. Isso acontece porque o sono é constantemente interrompido, o que impede que o corpo atinja os estágios mais profundos e restauradores do descanso.
Dificuldade de concentração e memória
A falta de sono de qualidade afeta diretamente o funcionamento cerebral. Pessoas com apneia do sono relatam falhas de memória, dificuldade para se concentrar em tarefas simples e queda no rendimento profissional ou acadêmico.
Irritabilidade e sintomas de depressão
A privação crônica de sono impacta também a saúde emocional. Alterações de humor, irritabilidade, ansiedade e até sintomas de depressão são comuns em pacientes com apneia do sono não tratada.
Dores de cabeça matinais
Acordar com dor de cabeça, principalmente ao redor dos olhos ou na parte frontal da cabeça, é outro sintoma frequente. Isso pode estar relacionado à falta de oxigênio durante o sono e ao esforço respiratório prolongado.
Diagnóstico da Apneia do Sono
O diagnóstico da apneia do sono é fundamental para garantir um tratamento eficaz e prevenir complicações mais sérias à saúde. Como os sintomas muitas vezes passam despercebidos pelo próprio paciente, é comum que o problema só seja identificado após uma avaliação detalhada com um profissional da saúde.
Avaliação clínica e histórico do paciente
O primeiro passo é uma consulta médica, geralmente com um clínico geral, otorrinolaringologista, pneumologista ou neurologista. Durante essa avaliação, o médico irá:
Investigar os sintomas relatados (ronco, pausas na respiração, cansaço, entre outros)
Observar fatores de risco como obesidade, histórico familiar e hábitos de vida
Realizar um exame físico, observando aspectos anatômicos que possam contribuir para o distúrbio
Esse levantamento ajuda a identificar se há suspeita de apneia do sono e se há indicação para exames mais específicos.
Polissonografia (exame do sono)
A polissonografia é o principal exame utilizado para diagnosticar a apneia do sono. Ele é realizado em um laboratório do sono ou hospital, geralmente durante uma noite de sono monitorada.
Durante o exame, sensores são colocados no corpo do paciente para registrar:
Atividade cerebral
Movimentos oculares e musculares
Níveis de oxigênio no sangue
Frequência cardíaca e respiratória
Roncos e pausas na respiração
Com base nesses dados, é possível identificar quantas e quais apneias ocorrem durante a noite, sua gravidade e se há necessidade de tratamento imediato.
Testes domiciliares de apneia (polissonografia tipo 3 ou 4)
Em alguns casos, principalmente quando a suspeita de apneia é moderada a grave, o médico pode indicar um exame do sono feito em casa, com um equipamento portátil.
Embora não seja tão completo quanto a polissonografia tradicional, esse tipo de teste pode ser útil para:
Diagnosticar apneia obstrutiva de forma mais acessível
Avaliar pacientes que têm dificuldade para dormir em ambiente hospitalar
Agilizar o início do tratamento
Tratamentos para Apneia do Sono
O tratamento da apneia do sono depende do grau de severidade da condição, das causas envolvidas e das características individuais de cada paciente. Em muitos casos, a combinação de diferentes abordagens é o caminho mais eficaz para recuperar a qualidade do sono e prevenir complicações de saúde.
Mudanças no estilo de vida
Em casos leves ou como complemento ao tratamento clínico, algumas mudanças no estilo de vida podem trazer grande melhora nos sintomas:
Perda de peso
Reduzir o excesso de peso, especialmente na região do pescoço e tronco, pode diminuir significativamente a obstrução das vias aéreas durante o sono.
Evitar álcool e sedativos
Essas substâncias relaxam excessivamente os músculos da garganta, favorecendo o colapso das vias aéreas. Evitá-las antes de dormir pode reduzir os episódios de apneia.
Dormir de lado
A posição supina (de barriga para cima) favorece o bloqueio das vias aéreas. Dormir de lado ajuda a manter a passagem do ar mais livre.
Higiene do sono
Manter horários regulares, evitar telas antes de dormir e criar um ambiente escuro e silencioso contribuem para um sono mais profundo e reparador.
Dispositivos e terapias
Nos casos moderados a graves, o uso de dispositivos médicos pode ser necessário para manter a respiração adequada durante a noite:
CPAP (pressão positiva contínua nas vias aéreas)
É o tratamento mais comum e eficaz para apneia moderada ou grave. O aparelho envia um fluxo contínuo de ar por meio de uma máscara nasal ou facial, mantendo as vias aéreas abertas durante o sono.
Dispositivos intraorais (aparelhos dentários)
Utilizados principalmente em casos leves a moderados, esses aparelhos reposicionam a mandíbula ou a língua para evitar o colapso das vias aéreas.
Cirurgias (em casos selecionados)
Indicações cirúrgicas incluem correção de amígdalas aumentadas, desvio de septo nasal, excesso de tecido na garganta ou alterações anatômicas severas. A cirurgia pode ser uma opção quando outros tratamentos não funcionam ou são mal tolerados.
Tratamentos complementares
Além das abordagens convencionais, alguns métodos complementares podem ser úteis, especialmente como suporte ao tratamento principal:
Fisioterapia respiratória
Ajuda a melhorar a capacidade pulmonar e o padrão respiratório, especialmente em pacientes com doenças associadas.
Exercícios para fortalecimento da musculatura orofaríngea
Práticas como a terapia miofuncional fortalecem a língua, lábios e músculos da garganta, reduzindo a tendência ao colapso das vias aéreas.
Abordagens integrativas (yoga, meditação, canto)
Técnicas como yoga, pranayama (exercícios respiratórios) e até exercícios vocais (como o canto) têm mostrado benefícios na melhora do tônus muscular e da respiração durante o sono.
Possíveis Complicações se a Apneia do Sono Não For Tratada
A apneia do sono não é apenas um problema de ronco ou cansaço. Quando não tratada, ela pode trazer sérias consequências para a saúde geral, afetando principalmente o sistema cardiovascular, metabólico e neurológico. A repetida falta de oxigênio durante o sono e os constantes microdespertares geram um estresse crônico no organismo, contribuindo para o desenvolvimento de doenças potencialmente graves.
Veja abaixo as principais complicações associadas à apneia do sono não tratada:
Hipertensão arterial
A queda nos níveis de oxigênio no sangue e os despertares frequentes aumentam a atividade do sistema nervoso simpático, responsável pela liberação de adrenalina. Isso eleva a pressão arterial, mesmo durante o sono. A apneia do sono é considerada um fator de risco importante para o desenvolvimento e agravamento da hipertensão, especialmente nos casos de difícil controle com medicamentos.
Doenças cardíacas
A apneia do sono está diretamente associada a arritmias cardíacas, insuficiência cardíaca, infarto do miocárdio e outros problemas do coração. A falta de oxigenação adequada força o coração a trabalhar mais, o que pode sobrecarregar o órgão a longo prazo. Estudos mostram que pessoas com apneia têm um risco significativamente maior de eventos cardiovasculares.
AVC (Acidente Vascular Cerebral)
As variações bruscas de oxigênio e pressão arterial durante a noite aumentam o risco de acidente vascular cerebral (AVC). A apneia do sono é, inclusive, um fator de risco silencioso para AVCs em pessoas jovens e aparentemente saudáveis.
Diabetes tipo 2
A apneia do sono também está ligada à resistência à insulina, contribuindo para o desenvolvimento ou agravamento do diabetes tipo 2. A fragmentação do sono e o desequilíbrio hormonal interferem no metabolismo da glicose, dificultando o controle da doença em pacientes diabéticos.
Quando Procurar Ajuda Médica
Muitas pessoas convivem com os sintomas da apneia do sono por anos sem saber que têm um problema de saúde sério. Por isso, é fundamental reconhecer os sinais de alerta e saber quando buscar ajuda profissional.
Sinais de alerta para apneia do sono
Você deve procurar avaliação médica se apresentar um ou mais dos seguintes sintomas com frequência:
Ronco alto e persistente, especialmente se for interrompido por pausas na respiração
Engasgos ou sufocamentos durante o sono
Sonolência excessiva durante o dia, mesmo após aparentemente dormir bem
Dificuldade de concentração e lapsos de memória
Irritabilidade, mudanças de humor ou sintomas de depressão
Dores de cabeça ao acordar
Pressão alta de difícil controle
Esses sinais indicam que o sono pode não estar sendo reparador e que pode haver um distúrbio respiratório por trás dos sintomas.
Qual profissional procurar?
O primeiro passo é marcar uma consulta com um médico clínico geral, que pode avaliar os sintomas iniciais e encaminhar para um especialista, se necessário. Dependendo do caso, os profissionais mais indicados para o diagnóstico e tratamento da apneia do sono são:
Otorrinolaringologista – avalia possíveis obstruções nasais, alterações anatômicas na garganta e outras causas estruturais.
Pneumologista – especializado em doenças respiratórias, incluindo distúrbios do sono como a apneia.
Neurologista – indicado quando há suspeita de apneia central ou outros distúrbios neurológicos relacionados ao sono.
Especialista em medicina do sono – profissional capacitado para lidar com todos os aspectos do sono e seus distúrbios.